segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Para refletir...

Recebi este texto num e-mail da mãe de um amiguinho do Vini. Achei lindo e resolvi compartilhar com aqueles que passarem por aqui.
   
Antes que eles cresçam!

Trechos do texto de Affonso Romano de Sant'Anna

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

É que as crianças crescem.

Independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença. Elas crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância. Mas não crescem todos os dias, de igual maneira; crescem, de repente.Um dia se assentam perto de você no terraço e dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.Onde e como andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o primeiro uniforme do maternal?

Ela está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.

Há um período em que os pais vão ficando órfãos dos próprios filhos.

Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas merecidas.

Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o nosso afeto.

No princípio subiam a serra ou iam à casa de praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhos. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos.

Agora é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente, exalarem contagiosa saudade.O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável afeição.

Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.

Por isso, é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que elas cresçam.

2 comentários:

Ana disse...

quando li esse texto pela primeira vez chorei... lembrei muito do meu pai que se deprimiu quando nós nos casamos: primeiro minha irmã, depois eu e por fim o caçula, ele ficou mal, com a sensação de que seus 3 filhotes deixaram o ninho. Agora ele tem novos filhotinhos; seis netos que o mimam muito. Fiquei pensando em como será quando os meus filhotinhos baterem asas...

Fernanda disse...

Pois é, Ana!
Por isso que devemos aproveitar todo o tempo possível com nossos pequenos...